A pirotecnia do espetáculo

Nem tudo são flores. Em canto algum. O que dirá em um cenário competitivo que se pauta na velha política do circo? Os espinhos estão por todos os cantos mas confundem-se com as pétalas na pressa do momento.

O espetáculo tem que continuar, na verdade ele deve ser a verve completa que oriente o início, o meio e o derradeiro grand-finale. Ao menos é assim que qualquer obra de entretenimento que procura se tornar grandiosa, se encaminha, exatamente como são competições esportivas modernas.

Arrogante ou apenas um vilão mal compreendido?

Nesse balaio se confundem os atores e suas atuações, personagens se tornam a expressividade última do que o público tem contato, as imagens são construídas e deformadas com qualquer ato, especialmente o falado, pois é fácil jugar a palavra dada.

Dois atos, no entanto, são o foco dessas linhas, em primeiro lugar a humildade e em segundo lugar, seu antagonismo clássico, a arrogância. Mas não procure ainda a definição das duas palavras, aqui elas tomam o significado do público, o significado falso que nada mais é que rastilho de pólvora criando pirotecnias para que o espetáculo possa existir.

Primeiro tomemos a falsa humildade, a tentativa de se auto inferiorizar em prol de receber holofote e ganhar a simpatia dos que ainda não entendem essa característica de forma exata, mas sim, nublada por impressões da massa. A falsa humildade é quando alguém é bom em algo, tem a ciência disso, mas sempre diz que foi sorte, atribui o sucesso a qualquer fator aleatório completamente fora de contexto e que claramente pode ser refutado.

Do outro lado, a arrogância, que se encontra com a falsa humildade em sua origem, mas seguem caminhos distintos de atuação. A arrogância é saber que é bom em algo, assumir ser bom e ainda menosprezar e inferiorizar os outros e até criar um cacoete de intangibilidade.

O público é severo em seu julgamento, as regras são simples e favorecem os vitoriosos. O arrogante vitorioso se transforma em alguém seguro, o falso humilde no sucesso, se torna o exemplo a ser seguido. Mas e na derrota?

Ser o derrotado arrogante é simplesmente ser arrogante, uma criatura execrável, enquanto o falso humilde é alguém sem garra, que se entregou e não batalhou o suficiente.

Foto : Riot Games Brasil — CBLoL 2017 — Segunda Etapa — Final — Team oNe x paiN Gaming

Mas tudo isso é pirotecnia, é chamariz e é a resposta ao clamor do público de criar conflitos, em ter sobre o que falar em um caráter pessoal longe do profissional e até mesmo do espetáculo, criando assim um sistema auto-sustentável.

As personalidades que atuam nesses escopos podem muito bem fazer isso apenas como parte do espetáculo, o que leva à possibilidade de agirem assim para libertar aqueles sentimentos mal trabalhados de dentro de si. Não importa qual seja a origem disso, uma vez que se estabeleça vencedor e perdedor, a narrativa toma a forma que o público deseja, com pedras arremessadas e louros lançados em honraria. Tudo se torna preto e branco e a questão antropológica do outro mais uma vez flutua sem ser percebida.

Por esse motivo é temerário eleger heróis e vilões, especialmente em um cenário igual o Brasileiro que não sabe lidar com personagens, separar a pessoa, o atleta, o profissional, mas sim gera uma figura aglutinadora de todos esses, fazendo com que vilões do espetáculo sejam vistos como criaturas malévolas.

Nesse sábado tivemos mais um exemplo de nuances desse assunto, seja nas declarações do pro vs pro, no desenvolvimento das séries ou mesmo na conclusão e em seus frutos. Muito ali (repito) é pirotecnia, é pura atuação para criar as narrativas desejadas e se torna necessário apontar, para que a compreensão disso possa se tornar mais comum, para que vilões possam existir sem que tenham de temer pela sua integridade ou serem eternamente vistos assim.

Foto : Riot Games Brasil — CBLoL 2017 — Segunda Etapa — Final — Team oNe x paiN Gaming

Mylon foi arrogante em sua declaração? Sim, mas quanto disso reflete arrogância da pessoa e não apenas o personagem do entretenimento, participante de uma narrativa e de uma aposta arriscada feita no uso de sua imagem? Será que tomar essa ação, como um validador de personagem, é algo justo?

Não sou advogado de defesa ou acusação, mas se existe um momento no qual um pro-player tem espaço para exercer arrogância sem necessariamente ser arrogante, é o Pro vs Pro, um quadro provocativo, para dar margem às farpas, criar narrativas de disputa e rivalidade.

As provocações que ocorrem no cenário brasileiro são bem pueris quando comparadas ao que é dito na prévia de confrontos na Coréia, China, Europa e em outras regiões de League of Legends, mas o impacto que elas geram é insanamente maior em nossas terras, como se uma declaração daquelas demonstrasse a verdade final sobre a personalidade daquele personagem.

Pois sim, jogadores são personagens em seus vídeos, em seu contato com o público. Quem, no meio de nós, não é personagem na festa da firma, no aniversário de um parente ou em qualquer outro momento onde o comportamento se adeque à situação e não reflita a totalidade de nosso ser?

Qualquer profissional mal assessorado pode enterrar a sua imagem, por isso muitas vezes a inexpressividade, ser “apenas mais um”, acaba sendo uma escolha de como levar adiante essa dança social, uma forma de evitar os extremos que pode muitas vezes custar a visibilidade.

Afinal, todos são profissionais e, por mais que amem o que façam, também desejam os ganhos financeiros. Quem não se destaca está morto, quem não aparece em todos aspectos, pode colher o fruto de apenas algumas árvores. Atuar faz parte do espetáculo de quem almeja mais.

Foto : Riot Games Brasil — CBLoL 2017 — Segunda Etapa — Final — Team oNe x paiN Gaming

Portanto a critica, embora necessária, não é algo que valha como um argumento final e derradeiro, pois nesse caso em especifico, 4LaN foi vitorioso e muito do que foi dito e tido como arrogância enquanto ele era “apenas mais um”, se tornam a característica de alguém confiante, do campeão.

O excesso de julgamento é daninho, a agressão desmedida é sempre injustificada e enquanto isso for uma regra nesse cenário, o espetáculo jamais pode alcançar o seu máximo, pois há riscos demais a serem assumidos em um mercado volátil demais.

Esses papeis poderiam ter sido invertidos no caso de vitória da pain, Mylon poderia ter sido visto como um profissional extremamente seguro de si, com um pouco de exagero, enquanto 4LaN poderia ter se coroado como um jogador arrogante.

Se você acha que o Pro vs Pro é muitas vezes constrangedor, acredite, em boa parte isso acontece pela temor do que o público pensará e como reagirá e a melhor forma de mudar isso é não exagerar nas reações.

Aproveite o espetáculo!

Parabéns para a Team One pelo título Brasileiro de League of Legends da segunda etapa de 2017!

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