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Arddhu

Cidade em perigo

*Esse é um conto fã-ficcional, não tendo nenhuma relação oficial com Magistrike

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Em alguma cidade…

Levanto a mão chamando atenção do garçom, apontando para meu copo em busca de mais um gole dessa bebida deliciosa. O equilíbrio dela é sublime e preciso aproveitar a oportunidade antes do fim dessa hora.

— Mais um pouco chefia? — ele me pergunta com um ar amistoso enquanto se aproxima. Percebo um ar um pouco mais gentil do que vi até o momento lidando com os outros clientes, uma gentileza provavelmente impulsionada pelas minhas roupas que destoam dos outros ao meu redor, afinal, elas demonstram que eu provavelmente tenho um pouco mais de dinheiro comigo.

— Sim, é a primeira vez que bebo isso — levanto o copo para beber o pouco que se acumulou no fundo, saboreando até a última gota.

— Você é novo aqui, interessante, só se encontra essa bebida em outros lugares por um preço muito alto, mas fabricamos ela aqui na cidade — sinto o tom de orgulho na fala do homem, um orgulho comedido, mas ainda presente.

Enquanto ele se afasta para pegar a garrafa meus pensamentos se distanciam para a extração, começo a organizar meus pensamentos, reunir minhas estratégias e a revisar o pouco de inteligência que consegui reunir sobre a Dungeon que surgiu recentemente na parte oeste da cidade. 

Talvez seja o efeito da bebida, talvez seja apenas alguma sinergia da energia do lugar com meu elemento, mas o silêncio da taverna é a única coisa que me indica que, os traços de energia no ar desenhando símbolos, runas e fórmulas não estão apenas em minha mente e sim visíveis para que todos possam ver. 

O leve choque remove minha concentração e, antes que os traços sumam, percebo que o silêncio foi tão absoluto que ainda pude ouvir o crepitar da energia por alguns segundos. Tão logo a energia se dissipa, as conversas em sussurro voltam e eu percebo que talvez tenha feito uma besteira.

— Um mago então? Se você queria chamar atenção de todos, conseguiu — o tom gentil ainda está presente na fala do garçom, mas é inegável que ela agora possui uma nuance de receio, sem saber se sou um extrator ou mesmo uma manifestação da Dungeon.

— Sim, perdoe minha indiscrição, eu achei que estava vendo os símbolos apenas em minha mente, não sei se é esse lugar ou essa bebida, mas algo potencializou muito minha magia — uso a carta da sinceridade, afinal, não sou muito bom com histórias ou mentiras.

— Eu acho que pode ser um pouco dos dois, mas quem saberia responder você direito seria o Tom, nosso apotecário, o único por essas bandas que consegue usar magia e é de confiança.

— E onde eu consigo encontrar ele?

— Talvez apenas no outro lado. Ele foi o primeiro a entrar na Dungeon há alguns dias…

O receio é substituído por pesar, se esse Tom ainda não voltou da Dungeon após alguns dias, as chances de ter perecido são imensas. Talvez ele pudesse ser habilidoso com magia, mas não é apenas a habilidade mágica que permite que alguém entre e saia de uma Dungeon. Por isso nós, extratores, somos tão raros.

— Sinto muito pelo amigo de vocês — levanto ao ar o copo com a bebida como se fizesse menção a um brinde — ao Tom!

Aquele mesmo silêncio de antes se faz presente enquanto as pessoas repetem meu gesto e sussurram, cada um ao seu modo, “Ao Tom” e se calam enquanto bebem em memória a essa pessoa que parecia ser não apenas importante, mas também muito querida.

Novamente o som volta ao lugar com as pessoas conversando e percebo que existe uma calmaria misturada com tristeza pelo Tom e uma receptividade a mim que até aquele momento não existiam.

— Você é um extrator? — a pergunta sem rodeios do garçom mais uma vez parece se espalhar como uma energia pelo ambiente, diminuindo a altura com que as pessoas conversam e me sinalizando que cada palavra que eu venha a proferir é de extrema importância.

— Sim, sou um Extrator, recebi as informações de que uma Dungeon teria surgido nessa cidade, estava há apenas duas cidades daqui e estranhei que ela surgisse assim tão próximo da civilização. Normalmente elas aparecem em lugares afastados e remotos, então tive certeza que deveria encontrá-la o quanto antes.

— Isso é um bom sinal, acalma os ânimos — e tão logo o garçom diz isso, sinto que o peso do ar se esvai, com toda atenção que estava sendo direcionada a mim, voltando a ser direcionada para outros assuntos e pessoas nas conversas — então veio atrás de riquezas e fama?

— Não, não é isso que me move enquanto extrator, eu busco os spellshards dentro das dungeons para fechar essas manifestações de magia aberrante e evitar que elas causem maiores problemas, como acabar com cidades inteiras ou mesmo deixar crianças órfãs… o que aconteceu comigo há 20 anos.

Novamente em ação, a carta da sinceridade. Uma carta que busca principalmente demonstrar que embora eu carregue o poder do Elemento Terra em minhas mãos, tenho empatia suficiente por essas pessoas para que os spellshards sejam extraídos e eles possam voltar a ter uma normalidade em suas vidas.

— Então essa fica por conta da casa — o garçom completa meu copo mais uma vez.

— Agradeço a gentileza — bebo esse último copo prestando atenção especial ao sabor, pode ser a última vez que eu o experimente.


Aterrizo quase torcendo o pé depois de um salto por cima de escombros, enquanto manifesto um escudo de pedra para me proteger das rajadas de energia que são disparadas em minha direção. Eu preciso apenas de alguns segundos, para que meu corpo consiga reunir a energia necessária para acabar com essa batalha, mas temo que o escudo não sobreviva por tempo suficiente.

Um aroma de frutas cítricas recém colhidas, misturada com uma sensação de frescor surge me causando um total espanto de algo assim dentro de uma Dungeon. Eu defendo mais uma rajada e a pressão do ataque me reafirma que estou vivo, e que esse aroma não faz parte das boas vindas de minha morte.

Mais uma rajada se choca contra meu escudo, destruindo o último fragmento que me protegia e me deixando completamente exposto aos ataques. Não possuo energia suficiente para conjurar um ataque ou outro escudo, um erro de cálculo que com certeza já foi o último erro da vida de muitos extratores. Apenas me preparo para a nova rajada de energia que começa a ser conjurada.

O aroma de frutas cítricas se torna muito mais intenso e uma onda enorme surge do corredor, carregando escombros, criaturas e tudo mais em seu caminho. Não é algo que irá destruir as criaturas, mas me dá os poucos segundos que me faltavam para terminar de reunir energia.

Traço no ar o selo de manifestação com meu punho esquerdo, enquanto reúno e transmuto toda energia que me resta em meu punho direito, desferindo um soco que jamais toca o chão, apenas espalha a energia ao meu redor através de um círculo mágico de invocação. Me ergo rapidamente e meus pés direcionam essa energia na forma de um arco similar à onda que surgiu a pouco.

A energia elemental devidamente controlada se transforma em um arco de rochas, extremamente veloz que se choca contra as últimas criaturas que ainda permaneciam de pé. O som da rocha se chocando contra seus ossos se espalha vigorosamente, enquanto seus corpos são destroçados e sua energia é devolvida ao ambiente e ao que manifestou essa magia aberrante. As criaturas caíram e posso finalmente alcançar o teleporte de saída dessa dungeon.

Mas antes que eu possa sair, a curiosidade me leva de volta ao corredor, onde vejo um senhor com apenas um braço apoiado em um cajado. Suas roupas estão esfarrapadas e a mancha de sangue seco onde deveria existir um braço me explica o que aconteceu.

— Sua magia de água é impressionante, obrigado por me salvar.

— Não se preocupe com gentilezas agora, o nome é Tom e obrigado por destruir essas criaturas imunes à minha magia. Eu só conseguia empurrá-las para longe.

— Então vamos sair desse lugar juntos, Tom, o spellshard está no trono e assim que for removido, a magia aberrante que mantém essa dungeon em pé irá ser quebrada, levando o lugar todo para baixo. 

— Obrigado, desconhecido

Me aproximo de Tom, que caminha com dificuldade e o levo até o trono onde está o spellshard. Uso um pouco de magia para revestir minhas mãos com uma fina camada de pedra que me permita tocá-lo sem problema. Ao removê-lo do ponto geratriz, o fornecimento de energia que mantém a Dungeon se interrompe e consigo ouvir o barulho de pedras caindo e explosões nas muitas salas pelas quais passei.

— Aqui está Tom — entrego a ele o spellshard, sabendo que com certeza ele irá usar esse poder para manter a cidade de pé.

— O-o-obrigado desconhecido…

O espanto e incredulidade dele sãorecompensas boas o suficiente para mim, afinal, eu estaria morto se não fosse o seu poder que me deu o tempo necessário. Após entregar o spellshard, ajudo-o a se mover até o portal com dificuldade, os ferimentos podem ser muitos mas ele está estável, algumas semanas de descanso devem deixá-lo de pé novamente.

— Agora vamos, quero sair logo daqui para beber um pouco mais daquele delicioso suco de pera antes de ir para uma Dungeon que surgiu ao sul, próxima à passagem da Primavera.

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