É uma dor estranha, sentir essa tristeza pela partida de alguém que eu nunca conversei pessoalmente e o mais próximo que cheguei fisicamente, foram vários metros de distância em um show há mais de 10 anos.
Ainda assim, foi uma pessoa tão próxima de mim durante boa parte da minha vida, alguém que me deu conselhos em diversos momentos sem nem mesmo me conhecer ou saber que eu existia.
Ozzy Osbourne foi parte de minha vida desde minha infância, um músico que conheci “sozinho” em lojas de CD que frequentava em uma época onde não tinha dinheiro para comprar, mas podia ficar encantado com as capas dos CDs.
O primeiro álbum que ouvi dele foi No More Tears, ao menos o primeiro que tenho consciência de ter ouvido, mas na época não me chamou tanta atenção, isso ficou para o seu álbum seguinte, Ozzmosis, quando ouvi pela primeira vez na casa de meu primo.
Até então em minha mente eram duas pessoas completamente diferentes e sem qualquer relação, mas Ozzmosis me encantou demais, me levando a ir atras de mais músicas e álbuns daquela voz “estridente”.
E eu reencontrei No More Tears e algo estranho clicou dentro de mim. Black Sabbath era algo que eu conhecia, mas mesmo que tivesse ouvido antes, não tinha chamado tanto a minha atenção. Tudo só começou a fazer sentido após Ozzmosis.
Alguns anos depois surgiu Rock’n Roll Racing e em sua seleta lista de músicas estava Paranoid. Foi assim que “redescobri” Black Sabbath e novamente lá estava Ozzy Osbourne.
Entendam que durante os anos 90, especialmente na sua primeira metade, Internet não era era algo que fazia parte do dia a dia. Para buscar mais músicas, aprender sobre a banda, você podia torcer para uma revista como Rock Brigade ter algum artigo a respeito, ou correr para a loja de músicas mais perto de sua casa.
Entre jogar RPG, Escrever, Ler, Jogar Videogame, Estudar e até mesmo brincar na rua, ouvir música não era a atividade ao qual eu mais me dedicava. Ainda assim, eventualmente até mesmo lições de “guitarra” eu busquei, encantado com tudo que a música tinha a oferecer.
Mas foi assim que Ozzy e Black Sabbath lentamente passaram a fazer parte da minha vida, fosse em momentos onde eu parava para ouvir as músicas e entender as letras, ou em momentos em que eu apenas deixava de fundo tocando enquanto fazia outra coisa. Com o tempo e conhecendo toda a discografia, ouvir Ozzy não era mais algo “especial”, mas sim algo intrínseco em minha vida, como respirar, ler, comer ou escrever.
Com o tempo me tornei “Fã” de outras bandas, Metallica foi uma delas, me apresentada pela MTV e pouco tempo depois me tornei fã de Therion, apresentada por um amigo.
Ao contrário de Black Sabbath e Ozzy Osbourne, Metallica e Therion eram (e ainda são) bandas ativas, após Ozzmosis foram 6 anos até que Down to Earth saísse e ainda assim não era um álbum de músicas originais.
Foram mais de 10 anos ate que Black Rain saísse e nesse tempo eu tinha sede de coisas “novas” que foram entregues por outras bandas enquanto Black Sabbath e Ozzy continuavam fazendo parte de minha vida, mais ou menos como os pais ou os avós com os quais você sempre pode contar.
Em um de meus primeiros empregos, tive um chefe também fã de rock e heavy metal, graças a ele conheci ainda mais e descobri que o marido da irmã de uma amiga, era vocalista de uma banda de Black Sabbath cover na baixada santista.
Eventualmente, acabei indo para uma cidade no interior de São Paulo (não me perguntem o nome) com a banda Ariel. Foi uma sensação maluca demais em “estar na estrada com uma banda” mesmo não sendo músico. Mas foi um daqueles momentos na vida onde a sensação de “pertencimento” foi plena. Foram poucas as vezes que senti isso na vida.
Mas anos se transformam em décadas e as décadas não deixam ninguém mais jovem. Embora Ozzy e Sabbath tenham publicado alguns albuns desde que os “conheci”, eu sabia que era improvável conseguir assistir a um show deles, fosse pelo valor dos show, fosse por um show deles ser cada vez mais improvável.
Ate que em 2013 eu pude assisti-los no Campo de Marte com a turnê de “13”, realizando uma vontade que eu acreditava que jamais conseguiria. Tenho muito daquela noite em minha mente até hoje.
Em 2016 não pude acompanhar “The End”, por isso mesmo que em 2025 eu fiz questão de acompanhar Back to the Begnining. Foi um dia maravilhoso que terminou com uma sensação estranha demais, satisfação de um lado e um sabor amargo de saber que seria a última vez que eu veria o Madman cantando.
Os últimos anos não foram fáceis, então quando soube desse último show, consegui um pouco de esperança pra seguir adiante, contando os dias para a apresentação e conseguindo o “ingresso” apenas no último momento.
Meio a isso, meu canal de youtube de RPG estava precisando de um redesign, de um rebrand e nesse resgate de “Ozzy/Sabbath” eu acabei me inspirando no logo de Master of Reality para essa identidade.
Eu preparei a identidade, utilizei a cor que em minha mente é tão icônica e gravei o vídeo anunciando essa mudança. Tudo estava pronto para colocar isso no ar no dia 22 de julho de 2025 às 18:30h.
Imaginem o nó que deu na minha cabeça quando faltavam poucas horas para isso e recebi a notícia do falecimento de Ozzy Osbourne. Eu ainda estou com esse nó.
Esse texto mesmo é uma tentativa de desatar esse nó, colocando pra fora lembranças e sentimentos, uma espécie de auto-resgate através da homenagem que consigo fazer a esse músico cuja carreira foi tão importante para mim.
Eu não estou procurando as palavras certas, nem fazer ordem ou sentido em tudo, apenas estou aqui escrevendo em meio a sorrisos de lembranças e os olhos vez ou outra ardendo como se quisessem desaguar.
É um sentimento ruim de sentir essa perda, ainda estou tentando entender e processar isso.
Ainda irei continuar esse texto em algum momento…. talvez eu continue, talvez eu o reorrganize, mas era fundamental eu registrar esse momento e meu sentimento.
Obrigado Ozzy!