Emular ou Criar

O cultivo de potências para a vitória

O comportamento é um campo de pesquisa imenso, estudado desde princípio dos tempos, através de várias técnicas e ciências que tentam entender como o ser humano funciona enquanto indivíduo e, como ele pode ser capaz de alcançar determinados resultados.

Nos esportes tradicionais esse estudo é recente, se comparado à história humana, mas ainda assim, se colocado ao lado dos esportes eletrônicos, temos uma escola de imenso saber a ser consultada em busca dos paralelos que funcionem em ambos, afinal, ninguém ainda sabe realmente como se tornar campeão em esportes eletrônicos.

Tentando elucidar essa questão, eu pergunto, quais são as possíveis variáveis necessárias para construir a vitória? Se você respondeu o treino árduo, pode descartar isso rapidamente, falo de variáveis e o treino é uma constante obrigatória em qualquer área onde se busque excelência, não seria diferente em uma área de esporte e de alta performance.

Disciplina, talvez essa seja uma das variáveis mais importantes nessa busca contínua pela “receita de bolo” que forme campeões e possa extrair o máximo potencial de cada um. Através dessa virtude, erros são encontrados e sanados, potências são mesuradas e incrementadas e a tranquilidade em lidar com todos os quadros que se apresentem, se torna um excelente fruto.

Mas até onde a disciplina é uma variável importante, será que é válido o stress causado pelo excesso de rigidez, em prol de conquistar a tão sonhada disciplina Sul-Coreana? Quanto se perde em talento e criatividade nesse caminho?

Logo, pensar na fórmula da vitória é algo que todos fazem, geralmente buscando inspiração nos que já venceram e se consagraram através de seus resultados. Em League of Legends, a Coréia é a principal fonte de vitória e eficiência, casa dos principais campeões que tem ditado, de certa forma, o ritmo do mundo nesse esporte eletrônico.

No entanto a disciplina da Coréia do Sul é resultado de uma interação de muitos fatores, como habilidades obtidas através de estudos comportamentais, em conjunção com a cultura única daquele lugar. Tendo apenas os estudos, mas um panorama cultural diferente, os resultados certamente não serão os mesmos.

Ela é um produto de sua educação, do pensamento geral do país e que acaba refletindo na busca pela excelência deles. Em nada ela se aproxima da cultura, ainda em formação, do Brasil, que, em seus elementos maiores encontra-se a adaptabilidade, a irreverência e a criatividade (essa última, coroada pelo terrível “jeitinho brasileiro”).

Um substituto comum para a disciplina é a rigidez, estes são dois termos que frequentemente andam acompanhados, embora sejam coisas completamente diferentes. No Brasil muitas vezes eles são confundidos e, a se julgar pelo relato de jogadores e funcionários do staff de vários times, isso é mais comum do que se imagina.

Isso acontece quando se tenta emular a disciplina ao invés de cultivá-la, é uma característica fruto da falta de preparo, da ausência de liderança capacitada somada a ânsia de resultados a curto-prazo. É algo fadado a causar desgastes irreversíveis mesmo que tragam sucesso em algum nível satisfatório em um primeiro exame.

Logo, enquanto existe uma lacuna, será que não seria melhor então preenchê-la com algum outro valor genuinamente brasileiro? Criatividade é talvez a chave, o atributo que pode se aliar à disciplina enquanto a mesma ainda é plantada para se enraizar no cenário.

Avitoria da Team One colocou essas questões em pauta, não pelos seus jogadores não serem disciplinados, mas justamente por conseguirem demonstrar o fruto da disciplina mesmo sendo conhecidos por terem uma rotina ligeiramente mais tranquila que a maioria dos outros times, ao menos tranquila quando o parâmetro em questão é a rigidez.

Qualquer rotina excessiva tende a causar lesões, nos esportes tradicionais, lesões físicas podem tirar de vez um atleta de cena, quando entramos em rotinas mentais então, falamos de algo que não pode ser tocado, algo que nem sempre é visto sem o acompanhamento adequado e que, mesmo detectado, pode as vezes acabar sendo mal interpretado.

Mas não precisamos ir tão longe assim, não estou falando de algo tão estressante que cause estafa ou mesmo esgotamento, falo de pequenas quantias desse desgaste que aos poucos custe a performance dos jogadores, sua comunicação ou mesmo motivação.

Pouco a pouco, esse tipo de desgaste pode se acumular em momentos de extrema necessidade como uma final de campeonato, em uma etapa de play off ou mesmo no dia a dia, custando pontos que poderiam salvar uma organização de entrar na zona do rebaixamento.

Claro que em organizações comprometidas e atenciosas, a existência de diversos profissionais, como psicólogos, pode sanar esses pequenos problemas que são problemas enormes em potencial, mas ainda assim, quanto será que é perdido nesse caminho de emular uma disciplina não compatível?

Por esse motivo que falo das variáveis do sucesso, certamente a disciplina não é a única, embora possa ser a maior e talvez até a mais importante. É necessário então mapear as muitas outras que existam e fazer uma análise de quais são genuinamente brasileiras.

Em um exemplo de comparação, tomemos a educação, o quadro atual do ensino no Brasil é terrível, crianças não tem estímulo para aprender e prestar a atenção em aulas pela condição cultural geral do nosso país. Como os professores que tem bons resultados conseguem se destacar?

Criatividade, adaptação, eles entendem que precisam encontrar formas alternativas que não estão na cartilha, que não são as constantes, sair da caixinha do pensamento tradicional e inovar em fórmulas que consigam captar a atenção de seus alunos e faça com que a lacuna da disciplina seja preenchida .

Em um segundo exemplo, o futebol possui uma indústria muito bem estabelecida de profissionais, milhões de crianças pelo Brasil sonham em ser o próximo Neymar, dessa forma, talvez pela quantidade, ou talvez pela vontade, seja mais fácil encontrar jovens realmente dispostos a mudarem completamente tornando-se disciplinados para esse objetivo.

Estes são dois exemplos de aspectos da realidade da formação cultural do Brasil, eles devem ser levados em consideração na hora de desenhar a estratégia de qualquer tarefa que busque alcançar a excelência, especialmente em um ambiente competitivo.

Na busca da vitória se faz necessário encontrar a fórmula Brasileira, não para que se vença o CBLOL, mas para se vencer lá fora, fazer bonito frente aos times internacionais e criar condições propícias para uma vitória mundial.

Aprender com os vitoriosos jamais pode ser deixado de lado, descartado ou visto como algo não importante, mas sem respeitar as diferenças fundamentais, culturais e estruturais de cada região, sempre estaremos um passo atrás, copiando algo que é feito por outras pessoas há mais tempo e com maior experiência.

Inovar é preciso, encontrar o equilíbrio é mandatório, precisamos encontrar nosso brilhantismo. Talvez, quando pararmos de tentar copiar o que faz nossos adversários fortes, buscando e conhecendo as nossas próprias forças,para transformá-las em potência, encontremos a grande fórmula da vitória.

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